Endividamento das famílias brasileiras

Essa semana estava esperando ser atendida no consultório médico quando me deparei com o artigo “Dinheiro no divã” na Revista Istoé de 04.06.2011. O artigo traz alguns dados interessantes: o brasileiro anda gastando mais do que ganha, 48% da população tem dívidas e 8% está muito endividada segundo as informações do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) citadas no artigo.

Hoje pela manhã estava lendo a Zero Hora de ontem quando me deparei com um artigo afirmando que segundo a pesquisa da Fecomércio de São Paulo, as famílias de Porto Alegre tem o maior endividamento médio no Brasil. Segundo o artigo, o valor mensal atingiu R$2.145 entre janeiro e maio desse ano, representando 30% da renda, o que nos coloca bem acima da média nacional de R$1.527.

Nos dois artigos, a culpa é atribuída a fatores como inflação aliada a estagnação dos salários e  facilidade  de crédito que  levam as famílias a comprometer uma parcela cada vez maior da renda com consumo. O artigo da revista Istoé também atribuí uma parcela de culpa às famílias:

“O dinheiro está no nosso dia a dia, mas não falamos sobre ele. Não fomos educados para lidar com as finanças e reproduzimos padrões familiares sem saber”, explica a psicóloga paulista Valéria Meirelles, especializada em psicologia do dinheiro.

Concordo com essa afirmação, mas me parece um pouco simplista. Há que se avaliar com mais cuidado os tais padrões familiares que reproduzimos. No meu caso, se pensar na situação dos país enquanto eu crescia, consigo entender porque a principal preocupação era o consumo imediato. Os níveis salariais eram bem mais baixos, a inflação era galopante e o crédito restrito, de forma que a maioria da população dedicava todos os seus recursos ao consumo de itens primários. Me lembro de acompanhar meus pais nos ranchos mensais que aconteciam imediatamente após o recebimento do salário onde literalmente estocávamos comida como se uma guerra fosse iminente. Também me lembro de que fazíamos consórcios para coisas como  um microondas ou uma filmadora.

Meu ponto é que apesar da diferença nas condições hoje, ainda carregamos essa realidade em nossos valores culturais e o aumento da renda e a facilidade de crédito só vieram para suprir um déficit gigantesco de desejos de consumo da população. De fato, não me surpreende nada o aumento do endividamento. Só não éramos endividados porque o crédito era limitado.

Um outro exemplo nessa mesma linha é a aquisição de um carro. Hoje, com o crédito e a maior oferta de veículos, vejo situações onde para realizar o sonho de ter um carro, as pessoas comprometem uma parcela significativa da renda muitas vezes bem maior do que podem suportar.  E ao adquirir o tal carro, esquecem de todos os outros gastos que vem a reboque: seguro, IPVA, manutenção, garagem, etc.

Como mudar a situação? Informação me parece ser o melhor caminho. Assim como no combate a disseminação de doenças como a AIDS, me parece que educar as pessoas sobre finanças pessoais é o caminho para evitar que os brasileiros endividem-se mais ainda. No ano passado, um projeto piloto do Banco Central, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Superintendência Nacional de Previdência Complementar, em parceria com o Bird, o Ministério da Educação e o Unibanco está levando aulas de finanças pessoais para alunos do Ensimo Médio em 450 escolas estaduais do Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins e Distrito Federal.

Segundo o Bird, o percentual dos estudantes que faziam poupança antes do programa passou de 44% para 49%, entre agosto e dezembro de 2010. Já os que faziam lista de compras passou de 13% para 16%.

A iniciativa em parece excelente e deveria ser ampliada na minha opinião. Qual a sua?

 

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