O COVID-19 é um problema de saúde pública, em primeiro lugar, mas tem algumas ramificações secundárias interessantes. O principal deles é o impacto que está tendo na economia em todos os níveis — global, nacional, local e pessoal. Neste artigo, faço algumas perguntas (mas não encontro muitas respostas). Qual a minha maior preocupação? Se a economia continuar sofrendo por mais algumas semanas (ou alguns meses), como as pessoas sem poupança sobreviverão?
Quão rápido as coisas mudam.
Três ou quatro meses atrás, o coronavírus (ou Covid-19, se preferir) era um problema distante. Era algo com que outras pessoas em outros lugares tinham que lutar. Claro, havia uma sensação iminente de que talvez este trem desgovernado estava vindo em nossa direção, mas ainda parecia distante o suficiente para que talvez parasse antes de chegar até nós.
Não é mais. Agora está claro que o coronavírus chegou ao Brasil para ficar, residindo permanentemente aqui em nossas comunidades. Atualmente o Brasil está em segundo lugar no número de casos confirmados, atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com o COVID-19 Dashboard by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University (JHU).
Estou fascinada pelas implicações financeiras do coronavírus. Elas vão ser enormes – elas já são enormes – mas eu não sei quem vai suportar o fardo ou como nós, como sociedade, vamos fazer sentido disso a longo prazo.
O mercado de ações depois de afundar começa a dar sinais de recuperação o que me faz crer que quando a poeira baixar, as coisas voltem ao normal.
Sim, eu sei que é impossível fazer previsões sobre a direção do mercado. Mas acredito que o movimento atual é em grande parte devido ao coronavírus e suas implicações imediatas. Quando esta crise passar – em alguns meses, digamos – espero que as ações recuperem a maior parte do que perderam a exemplo do que já aconteceu em outras crises anteriores. Não todas, mas a maioria. (E novamente: eu poderia estar errada. Não faça nenhum movimento de mercado baseado no que eu pessoalmente acredito que vai acontecer. Eu sou apenas uma pessoa aleatória atrás de um teclado.)
Mas fora do mercado de ações, há uma série de outras implicações financeiras. Estamos enfrentando um território desconhecido. Não sei mais o que esperar, e acho que ninguém mais sabe.
Aqui estão algumas das minhas perguntas.
O que vai acontecer com os pequenos negócios?
Na verdade, estou menos preocupada sobre como os Grandes Negócios vão resistir a esta tempestade e mais preocupada sobre como as pequenas empresas vão se manter.
Veja restaurantes, por exemplo. Já faz alguns meses que eu jantei fora – ei, eu estou seguindo com a minha resolução para gastar menos em comida em 2020 — mas só posso imaginar que as coisas estão muito difíceis com as diversas restrições impostas pelas autoridades locais para tentar achatar a curva de contágio.
Tenho começado a ver comunicados de locais fechando as portas em definitivo nas redes sociais.
Então, por pior que as coisas pareçam para grandes empresas como Apple e Latam, elas são ainda piores para pequenas empresas.
Como o Coronavírus está afetando as finanças pessoais?
Como uma pessoa interessada em finanças pessoais, porém, minha maior preocupação durante esta crise é o impacto que isso vai ter sobre os indivíduos.
Como tudo isso vai afetar os trabalhadores? Se o meu restaurante favorito tem que fechar — mesmo temporariamente — ou ainda adaptar-se para o modelo de delivery, o empreendedor provavelmente perde renda, mas de repente seus funcionários estão desempregados.
Se o Estado continuar a perder receita, pode ser que meu marido, que é servidor estadual, fique sem renda por um tempo. Hoje os salários dos servidores do executivo no Rio Grande do Sul já estão sendo pagos com atraso há mais de 50 meses. No entanto, essa (folha de abril de 2020) foi a primeira vez que o Estado levou mais de 30 dias para quitar a folha, o que está previsto para acontecer em 12/06.
Felizmente, temos duas rendas. E a minha renda não sofreu impactos até o momento. Podemos resistir à tempestade. Nem todo mundo pode. Na verdade, a maioria dos brasileiros tem pouco (se alguma coisa) investido. Segundo a pesquisa da Anbima, Raio X do Investidor Brasileiro – 2ª Edição de 2019 apenas 42% dos brasileiros tinham algum saldo aplicado em produtos de investimento.
Se você tem trinta e poucos anos com uma família, uma hipoteca, um pagamento de carro e dívidas de cartão de crédito, então o que acontece quando você perde seu emprego (ou experimenta uma demissão) por que as pessoas param de vir para onde você trabalha?
Em uma economia normal, isso acontece constantemente em uma escala muito pequena. As pessoas não usam mais máquinas de escrever, então uma empresa de máquina de escrever sai do negócio e seus funcionários não têm mais emprego. Mas isso é um punhado de negócios. Agora, hoje, este problema é amplo e afetando tudo de uma vez.
Não sou eu inventando coisas. Isso está acontecendo com nossa família e amigos agora no mundo real.
O que acontece quando muitas pessoas experimentam isso ao mesmo tempo? E depois?
O The Independent, uma publicação britânica, opinou recentemente que o coronavírus vai falir mais pessoas do que matar. Suspeito que seja verdade. Do artigo: “We may look back on coronavirus as the moment when the threads that hold the global economy together came unstuck.” Espero que não.
Uma vantagem que o Brasil tem em relação a outros países é o SUS. Em certos países simplesmente não há um sistema público de saúde em funcionamento o que torna o combate ao coronavírus mais difícil do ponto de vista logístico e mais caro para o indivíduo.
A Economia Nacional vs. Sua Economia Pessoal
Obviamente, a situação econômica nacional afeta nossas decisões financeiras pessoais até certo ponto.
Quando o desemprego sobe, é importante manter uma poupança de emergência adequada e limitar o uso da dívida. Quando o mercado de ações cai, você precisa entender seus objetivos de investimento, e como estes se relacionam com sua tolerância ao risco e seu cronograma de investimento.
Independentemente do estado da economia nacional, em última análise você é responsável por sua economia pessoal. Um CFO é proativo, preparando-se para problemas antes que eles ocorram. Quando os tempos estão limpos, você precisa deixar algo de lado para o futuro. Então, quando as coisas ficarem escuras e sombrias, você estará melhor protegido dos infortúnios do destino.
Uma economia pessoal forte é construída sobre fundamentos de finanças pessoais como estes:
- Metas financeiras claras. Você precisa saber por que você está ganhando e economizando dinheiro. Onde você quer estar em cinco anos? Dez? Como você quer chegar lá?
- Um fundo de emergência adequado. Especialistas discordam sobre o tamanho de um fundo de emergência. Alguns dizem seis meses, outros dizem doze, e outros dizem três. Eu digo que deve ser grande o suficiente para deixá-lo dormir à noite quando a economia ficar difícil. (E a melhor hora para economizar é antes que você precise do dinheiro.)
- Uso limitado da dívida. Se você usar dívida, use-a sabiamente. Uma hipoteca não é um coisa ruim, e nem empréstimos estudantis. Um empréstimo de carro é limítrofe, no entanto, e pedir emprestado para comprar uma televisão é tolice. Use a dívida somente quando necessário. Se você suspeitar que pode perder seu emprego ou encontrar alguma outra grande mudança de vida, então livre-se da dívida completamente.
- A prática do minimalismo e frugalidade. Quando sua situação econômica pessoal é boa, é fácil se acomodar. Você começa a comprar ketchup orgânico e comer em restaurantes chiques. Você tira férias maiores. Mas se você pode dominar a arte da frugalidade quando os tempos são gordos, você será mais capaz de praticá-la quando os tempos são magros.
- Investimento inteligente para o futuro. Por último, invista sabiamente. Não deixe que as notícias te levem a tomar decisões emocionais. Compre baixo e venda alto. Se você não estava disposto a vender seus investimentos quando o Ibovespa estava perto de 110.000, então como no mundo faz sentido vendê-los quando o Ibovespa chegou perto de 70.000?
A base de uma economia pessoal forte é a educação. Para se tornar um investidor sábio, você deve ser um investidor educado. E você deve reconhecer o que pode ou não controlar. A economia nacional (e global) afeta sua economia pessoal, mas, em última análise, tudo o que você pode controlar são suas finanças pessoais.
O que acontece a longo prazo?
Tenho outras perguntas sobre o que acontecerá a longo prazo.
A economia nacional (e global) pode simplesmente fazer uma pausa de alguns meses, e depois retomar normalmente como se nada tivesse acontecido? O que acontece enquanto isso? Como cuidamos de nossas populações em risco e daqueles que já lutam para sobreviver?
Como melhoramos nossa capacidade de lidar com eventos de cisne negro como este no futuro?
Essa crise mudará alguma coisa sobre como vivemos e nos relacionamos? É possível que isso possa aliviar algumas das brigas partidárias que temos vivido nos últimos anos?
É minha mais profunda esperança que este evento sem precedentes una as pessoas de uma forma que não vemos neste país há algum tempo. Espero que o espírito de cooperação floresça e que as pessoas e o governo e as empresas encontrem soluções para garantir que todos venham felizes, saudáveis e financeiramente seguros.
Infelizmente, acho que isso não vai acontecer.
Eu não tenho nenhuma resposta aqui, obviamente. Tudo o que tenho são muitas perguntas. Suspeito que seja verdade para todos. Pela primeira vez, isso realmente parece um caso de “desta vez é diferente”.