Caminho financeiro da felicidade – Parte 2

Semana passada, discutimos três dicas sobre como gastar dinheiro pode aumentar a felicidade, de acordo com os resultados dos pesquisadores Elizabeth Dunn, Dan Gilbert, e Timothy Wilson (“If Money Doesn’t Make You Happy Then You’re Probably Not Spending It Right” [PDF]). Através da pesquisa empírica, eles procuraram identificar como e porque o dinheiro pode comprar felicidade  (e porque usualmente compra menos felicidade do que as pessoas imaginam).

Para recapitular, as primeiras três dicas foram as seguintes:

  1. Compre menos coisas materiais e mais experiências.
  2. Use seu dinheiro para ajudar outros.
  3. Frequência é mais importante que preço.

Os seres humanos se adaptam a novas coisas rapidamente, e quando o “brilho” passa, nomalmente estamos menos felizes com as Coisas que compramos. Claro que algumas Coisas trespassam a fronteira entre Coisas e experiências. Por exemplo, eu possuo uma coleção de panelas Le Creuset que custaram uma pequena fortuna, que são coisas. Mas cozinhar para mim e para os amigos é uma experiência enriquecedora. (Admito que não contribui muito para a minha forma física, mas ainda assim uma experiência maravilhosa)

Também somos animais sociais. Mesmo o mais anti-social entre nós é muito mais sociável que qualquer outra criatura do planeta. Usar o dinheiro para ajudar outros ativa partes do cérebro associadas com o recebimento de recompensas.

Hoje vamos discutir as outras cinco dicas de como gastar pode aumentar a felicidade, de acordo com Dunn, Gilbert, e Wilson.

Dica #4: Não compre garantias extendidas.
“Se a má notícia é que nos adaptamos às coisas boas, a boa notícia é que nos adaptamos às coisas ruins também,” dizem os pesquisadores. Estudos acerca de como as pessoas lidam com o trauma indicam que as pessoas são menos frágeis do que imaginam ser quando enfrentam uma tragédia, elas superestimam quanto negativamente serão afetadas pelo evento.

Um resultado é que somos mais vulneráveis a comprar um seguro desnecessário, como por exemplo as garantias extendidas cuja oferta é cada vez mais comum no Brasil, que normalmente são caras e oferecem mais vantagens ao vendedor do que ao comprador.

Essecialmente, os pesquisadores dizem, garantias extendidas são “uma proteção emocional desnecessária.” Porquê? Parece negativo, mas experimentamos menos remorso do que prevemos. É como se criássemos um mecanismo para reduzir a infelicidade com um problema inesperado que pode ou não se materializar.

O pior é que seguros desnecessários não contribuem com o aumento da nossa felicidade, mas podem reduzí-la. Em um estudo, participantes receberam uma oferta para escolher reproduções de pinturas. Depois de fazer a sua escolha, metade deles recebeu uma oferta de uma generosa política de garantia extendida  – eles poderiam trocar suas reproduções por outra a qualquer momento no próximo mês. Para a outra metade foi informado que sua decisão era final. Os participantes preveram que seriam igualmente felizes com qualquer das duas escolhas, com ou sem a garantia de troca, mas na realidade aqueles que não tiveram a opção de troca experimentara um apreciação aumentada da pintura que escolheram.

Compramos garantias extendidas ou de troca numa tentativa de protegernos contra remorso sobre a decisão de compra que tomamos, mas a pesquisa mostra que isso não adiciona em nada ao nosso contentamento.

Dica #5: Adie o consumo.
Nossa cultura incentiva o comprar agora, imediatamente.  Os cartões de crédito nos permitem comprar hoje com a renda de amanhã. Ouvimos a todo momento “sem entrada” ou “primeiro pagamento só no ano que vem”. Ou recebemos ofertas com prazo estabelecidos e somos pressionados por um relógio de contagem regressiva para decidir sobre a compra.

Os pesquisadores identificaram duas maneiras como a esses aspectos culturais reduzem a nossa felicidade. Primeiro, pode levar ao consumo compulsivo e, consequentemente, à ruína financeira.  A pesquisa cita diversos estudos que mostram que quando as pessoas são impacientes, acabamo menos felizes no final.

Em segundo lugar, comprar agora e pagar depois significa que não foi criada expectativa alguma, e segundo a pesquisa, as vezes a expectativa é uma fonte ainda maior de felicidade do que a compra. Um estudo demonstrou que as pessoas que dedicam tempo antecipando as experiências prazeirosas se descrevem mais felizes do que os demais, e um outro estudo demonstrou que pensar sobre o futuro invoca emoções mais fortes do que refletir sobre os eventos em retrospectiva.

Além de criar uma expectativa positiva, adiar a compra também pode modificar a sua escolha.

Dica #6: Considere como as características periféricas das Coisas podem afetar sua vida diária.
Eu as vezes fico sonhando em comprar uma casa no canto norte de Garopaba, SC em alguns anos. É um lugar adorável com várias opções de praias maravilhosas. Mas comprar uma casa em Garopaba é mais do que aproveitar a praia, é preciso pagar impostos anuais, contratar uma pessoa para cuidar do lugar na minha ausência, arranjar manutenção e limpeza antes ou quando chegar para descansar, entre outras coisas.

Um estudo mostrou que quanto mais distante uma experiência está em termpos de tempo, mais superficial e abstrato é a avaliação das pessoas. É até romântico ficar sonhando com algo que só vai acontecer em 5, 10 ou 20 anos, então tendemos a desconsiderar os detalhes que podem afetar a nossa felicidade.

Além disso, existem evidências que os altos e baixos do dia-a-dia tem um efeito bem maior na felicidade do que uma única aquisição — e superestimamos o efeito do evento que estamos focando a nossa atenção. Comprar uma casa em Garopabla provavelmente não terá um efeito duradouro sobre a minha felicidade, como tudo na vida, trará coisas positivas e negativas. Vai dar dor de cabeça e incomodação assim como alegrias de aproveitar os ares da praia. No fim, eu provavelmente vou continuar me hospedando no hotel para não ter nenhuma preocupação.

Dica #7: Esteja consciente do poder da comparação.
Comparar é uma prática inteligente que te traz economia, mas as vezes pode nos distrair das qualidades que são mais importantes para nós.

Alguém procurando uma nova casa, por exemplo, pode querer algo com preço razoável com um grande pátio para as crianças e um cozinha integrada. Mas depois de visitar umas 20 casas, algumas provavelmente acima do seu preço máximo, repentinamente as casas que atendem as suas condições originais já não são mais tão interessantes. Um outro exemplo pode ser criado com os carros. Sempre começamos a olhar os modelos dentro de uma certa faixa de preço.. Mas depois de passar alguns modelos começamos a pensar, apenas R$10 mil a mais e poderíamos mudar para uma classe de carros que é muito superior ao que estávamos originalmente procurando. Lamento informar que será muito difícil se satisfazer com os modelos que se classificam dentro da nossa faixa de preço orçada. Algumas pessoas podem acabar assumindo uma dívida ainda maior só para ficar com o modelo mais completo, o que não era necessariamente tão importante quando a busca pelo novo carro começou.

Dica #8: Preste atenção na felicidade das outras pessoas.

Na maioria das vezes, as mesmas coisas que trazem felicidade para os outros funcionarão para você também.  Do estudo:

…Gilbert, Killingsworth, Eyre, e Wilson (2009) pediram a mulheres para predizer o quanto elas apreciaram um encontro com um homem específico. Algumas mulheres tiveram acesso a fotografia e biografia do homem, enquanto outras  receberam apenas um indicador de quanto as mulheres anteriores apreciaram o encontro com o tal home alguns minutos atrás. Embora a maioria das participantes esperava que as participantes que tiveram acesso a fotografia e biografia fossem capazes de fazer previsões mais precisas do que as demais, aconteceu justamente o contrário. De fato, as mulheres que tiveram acesso ao indicador acertaram suas previsões 50% a mais do que aquelas que tiveram acesso à fotografia e biografia do sujeito.

Em outras palavras, se você é mulher e maioria das mulheres da sua idade classificam um filme como bom, a probabilidade é de que você também apreciará o filme – a menos que você seja como eu que prefere filmes sem choro, sem susto e com muita ação e pancadaria. By the way, amei Thor que assisti hoje. Quando for decidir uma compra, vale a pena dar uma olhada na opinião dos proprietários nos fóruns de discussão.

O dinheiro pode comprar a maioria do que nos faz felizes
Segundo os pesquisadores “Dinheiro pode comprar muitas coisas, senão a maioria, senão todas que nos farão felizes, e se não o fizerem, a culpa é nossa”.  Somos ruins em prever o que nos fará felizes, e muitas vezes consumimos nossos recursos em coisas que não somente não contribuem com a felicidade mas por vezes a reduzem.

Pessoalmente, eu não dou muita atenção a preferência geral da população, mas de resto me parece que as dicas dos pesquisadores fazem muito sentido. E vocês?

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