Acredito que muitas pessoas, assim como eu, já estão meio cansadas de ouvir as mesmas dicas sobre planejamento financeiro. Finanças pessoais no final das contas não é uma ciência avançada. As regras básicas são sempre as mesmas:
- Regra de ouro: gastar menos do que se ganha.
- Definir as metas que deseja atingir.
- Possuir um fundo de emergência para enfrentar os gastos inesperados ao longo do ano.
- Fugir do endividamento. Só contrair dívidas que possam ser pagas com trânquilidade e num horizonte curto.
- Investir seus recursos com sabedoria.
- Contratar seguros adequados à sua exposição de risco. Considere nisso não apenas o seguro do carro, é preciso avaliar o seguro de vida e de residência também.
- Conhecer a si mesmo. É sábio conhecer o que influencia as suas decisões de consumo.
- Reconhecer os pequenos sucessos. Presenteie a si mesmo de vez em quando.
- Não mire na lua. Tenha metas que sejam desafiadoras o suficiente porém não inatingíveis.
- Se todos itens anteriores forem atingidos, gaste tudo que sobrar.
Alguns artigos indicam que a maioria das pessoas desiste de controlar as próprias finanças depois de alguns meses. Em mais de um artigo que li, o prazo era 5 meses. Me parece que um componente importante para fazer os itens listados antes funcionarem é a disciplina para planejar e executar o planejamento o que é bem parecido com o que acontece em uma empresa. Assim como as empresas preparam um plano de negócios você também pode ter um plano para a sua vida financeira. Eu, como legítima control freak, tenho um plano estratégico para quase todos os aspectos da vida.
Anualmente, ou na periodicidade que quiser, considere todas as possibilidades de: (i) aumento de renda (promoção ou fontes extras); (ii) mudanças de rumo (treinamento, nova profissão ou emprego); (iii) gastos para melhoria; e (iv) ações na gestão de caixa (melhorar o rendimento dos investimentos ou reduzir os gastos).
Para construir o seu plano considerando as possibilidades anteriores considere também que um solteiro é como uma firma individual, pode projetar seu crescimento, fazer planos para o seu desenvolvimento investindo na sua formação e carreira sem se preocupar com outra pessoa. Já quem se casa é como uma empresa que vai se combinar, de forma que é preciso considerar a necessidade dos dois sócios envolvidos. Na Inglaterra existe uma expressão Dink’s (Double Income No Kids) que define uma grande parte das famílias onde os dois trabalham e não tem filhos logo podem focar seus esforços na carreira de ambos.
Uma forma de visualizar o planejamento e também de avaliar os resultados é criar uma planilha como se fosse um balanço patrimonial de uma empresa. Essa planilha seria uma fotografia exata da sua situação econômica que traz a possibilidade de avaliar o seu progresso, ao invés, de simplesmente ficar focado no fluxo de caixa mensal. Por exemplo, desde que comecei a controlar as minhas finanças através da posição patrimonial, meu patrimônio líquido (tudo o que tenho menos tudo o que devo) cresceu quase 1900% ou seja em 30 de junho de 2010, meu patrimônio líquido é 19 vezes maior do que era em 31 de dezembro de 2007.
O que considerar no balanço patrimonial:
Ativos – representam tudo que gera renda ou foi incorporado ao seu patrimônio e possui valor de troca. Seguindo a regra da contabilidade, organize seus ativos a partir dos itens que podem mais facilmente ser convertidos em dinheiro.
– Caixa e equivalentes de caixa – Todo o dinheiro em espécie ou em conta corrente que sem nenhuma restrição de uso.
– Investimentos financeiros – Todas as aplicações financeiras desde a velha e conhecida caderneta de poupança até as ações de empresas adquiridas na bolsa de valores.
– Contas a receber – Saldos a receber de salários, bônus, dinheiro emprestado para os amigos (cabe avaliar o potencial de recuperação de cada caso).
– Ativos de longo prazo – todos ativos que só podem ser realizados em mais de 1 ano. São exemplos títulos do governo, imóveis para investimento comprados na planta, planos de previdência privada.
– Ativos permanentes – Carro e casa de uso próprio normalmente entram aqui. Obviamente que esses recursos podem ser vendidos se necessário, mas normalmente não é essa a intenção inicial.
Do outro lado do balanço:
Passivos – tudo o que se deve. A lógica da organização é o vencimento das dívidas.
Saldos em cartões de crédito – sempre considere o saldo total ainda que esteja efetuando os pagamentos mínimos.
Financiamentos – aqui entram o financiamento do carro, da casa, ou qualquer outro.
Contas a pagar – todo o resto.
Para simplificar a questão o patrimônio líquido vai ser o resultado da equação Ativos menos Passivos.
Uma boa forma de fazer esse exercício pela primeira vez é revisar a sua última declaração de imposto de renda. Alguns bancos, como o Itaú, por exemplo, disponibilizam aos seus correntistas um demonstrativo mensal que faz um balanço entre os seus ativos (conta corrente, investimentos, etc) e suas dívidas (crédito pessoal, cartão de crédito etc) o que já é uma forma de avaliar a sua situação.