Caminho financeiro da felicidade – Parte 1

Vocês com certeza conhecem o velho ditado: “Dinheiro não compra felicidade”.  Os pesquisadores Elizabeth Dunn, Dan Gilbert e Timothy Wilson dizem que é um mito. Através de uma pesquisa empírica, eles identificaram dicas para as pessoas obterem mais felicidade para o dinheiro gasto.

A conexão entre dinheiro e felicidade tem sido estudada há muito tempo, e o resultado tem sido quase sempre o mesmo: dinheiro compra sim felicidade – mas menos do que a maioria de nós espera. Para quem é economista é só lembrar daquela maldita lei dos rendimentos decrescentes, depois de um certo ponto – cobrindo as necessidades básicas e tendo um certo excedente – mais dinheiro não significa mais felicidade.

Mas Elisabeth, Dan e Gilbert queriam saber mais a respeito. Em novembro passado eles publicaram os resultados da sua pesquisa em um artigo chamado “Se o dinheiro não te faz feliz então você provavelmente não está gastando direito” . Os autores apontam para estudos que mostram que o dinheiro dá as pessoas:

  • mais controle sobre as suas vidas
  • mais tempo livre para passar com as pessoas amadas
  • vidas mais saudáveis e mais longas
  • uma espécie de amortecedor contra stress e perigo

Esses elementos tem sido identificados nos estudos como fontes de felicidade. Então, se as pessoas ricas são capazes de pagar por cuidados médicos de primeira qualidade, férias com a família num destino paradisíaco, e procurar por uma carreira significativa — elementos de uma vida feliz — porque eles não são proporcionalmente mais felizes do que as pessoas com menos dinheiro?

Em primeiro lugar, os seres humanos não sabem o que lhes fará feliz

A principal razão é porque as pessoas não sabem no que deveriam gastar para cultivar felicidade. “Dinheiro é uma oportunidade para felicidade,” Dunn e seus colegas escrevem, “mas é uma oportunidade que a maioria das pessoas desperdiça porque as coisas que eles acreditam que trarão felicidade na maioria das vezes não trazem.”

Sempre que nos deparamos com uma escolha, é da natureza humana tentar prever o resultado de cada escolha. Os pesquisadores encontraram um número enorme de estudos que demonstram que seres humanos são terríveis em fazer previsões.

  • Por um lado, nós sempre subestimamos nossa capacidade de nos adaptar as circunstâncias  — boas ou más — e os nossos cenários previstos ficam devendo detalhes importantes.
  • Por outro, o contexto em que fazemos nossas previsões não é o contexto em que experiência futura realmente se realiza.

Esses dois fatores só confirmam que somos terríveis em prever o que nos fará felizes, o quanto nos fará felizes e por quanto tempo.

Como gastar para maximizar a sua felicidade
Um indivíduo pode ser incapaz de prever o que lhe fara mais feliz, mas felizmente dados empíricos podem compensar erros humanos. Os pesquisadores identificaram 8 maneiras de incrementar a felicidade pelo dinheiro gasto. Vou repassar os 3 primeiros nesse artigo e  os demais no futuro.

Dica #1: Compre menos coisas materiais e mais experiências.
Experiências nos dão retorno imediato e costumam melhorar com a idade. Quando compramos algo material, por outro lado, nos adaptamos rapidamente e a aquisição vai perdendo o brilho diariamente. Quanto tempo até você começar a pensar no próximo carro, próximo celular ou próximo computador?  Experiências por outro lado tendem e ficar na memória  – quem não relembra de tempos em tempos  o seu primeiro encontro , ou aquela viagem de férias, ou ainda aquele vinho especial aberto durante um jantar entre amigos.

Também é mais difícil ficar obcecado pela opção que não escolheu quando se trata de experiências, e ruminar sobre a estrada alternativa é, certamente, um caminho certo para a infelicidade. Por exemplo, você está decidindo entre 2 modelos de carro, você faz a sua compra, e aí encontra um artigo demonstrando a superioridade do outro modelo ou tem um problema logo de cara com o modelo que escolheu. Aii.  De repente você está bem menos feliz com seu carro novo em folha. Mas decidir entre passar as férias de pernas para o ar no Caribe ou visitar amigos no Leste Europeu, qualquer que seja a escolha não tem como dar muito errado, tem? É muito mais difícil comparar duas experiências completamente diferentes, mas igualmente maravilhosas. É pouco provável que você se arrependerá de qualquer que seja a sua escolha.

Finalmente, os pesquisadores apontam que as experiências normalmente são compartilhadas com outros, e os outros são uma das mais citadas fontes de felicidade.

Dica #2: Use seu dinheiro para ajudar outros.
Segundo o artigo,  apenas alguns animais, como cupins e ratos, criam redes sociais tão complexas quanto as humanas, e nós somos a única espécie a incluir indivíduos não diretamente relacionados em nossos círculo social. Em outras palavras, mesmo a pessoa mais introvertida entre nós ainda é um ser altamente social em comparação com outras espécies do planeta.

Um estudo mostrou que, mesmo ao considerar rendas semelhantes, as pessoas que gastam mais dinheiro socialmente (presentes ou doações) são mais felizes dos que gastam menos com os outros. Gastos pessoais (contas, despesas e presentes para si) aparentemente não tem relação direta com a felicidade.

No entanto os autores apontam que a maioria dos entrevistas previu ter mais felicidade a partir de gastos pessoais do que gastos sociais. Aparentemente, pensar em gastar com outros é bem mais difícil do que pensar em gastar consigo.

Dica #3: Frequência é mais importante que preço.

Devido a nossa capacidade de se adaptar rapidamente às coisas novas, existe evidência de que experiências mais frequentes, mesmo que menores, nos farão mais felizes do que experiências estonteantes porém raras.

Os pequenos prazeres são usualmente uma experiência diferente toda vez. Coisas como uma massagem, um drink com amigos, ou ingressos para um concerto local nunca são exatemente iguais, e levamos mais tempo para nos adaptar a eles. Se você decidir abrir mão desses prazeres por um carro novo, por exemplo, você perceberá que a excitação do carro novo vai passar mais rápido do que esperava. Você dirigirá o mesmo carro todos os dias, a mesma experiência toda a vez – e da onde diabos apareceu aquele risco na porta?!

Isso me faz pensar que dizer a alguém para cortar todos os supérfluos, como comprar um livro para ler ou tomar aquele capuccino diário, é um daqueles conselhos que parece muito racional mas é ineficaz na vida real. Eu, por exemplo, adoro ler. Troco a maioria das coisas por um bom livro para ler e cada leitura é uma nova experiência.

Porque experiências mais frequentes ainda que menores são melhores? Os pesquisadores identificaram que esses pequenos prazeres, como o meu gosto pela leitura ou o capuccino diário dos viciados em cafeína, nos permitem aproveitar mais novas experiências, o que está relacionado com a nossa percepção de felicidade.

Continua…

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